O velho problema de quase todos os carros: consumo

Na semana passada troquei alguns e-mails que me fizeram pensar muito sobre o assunto. O internauta Ricardo Marques comentou comigo as suas experiências recentes com automóveis e como ele estava frustrado em relação a média de consumo dos carros que ele tinha e tem atualmente. Reproduzo abaixo parte do que ele disse (juntei o conteúdo num único texto e dei uma resumida para ficar mais direto, com prévia autorização do Ricardo):

Volkswagen/Divulgação

“Como a família estava maior, eu era proprietário de um Chevrolet Vectra Elite 2.0 automático, com motor Flexpower atualizado. Carro muito confortável, mas sempre achei que a média de consumo estava ruim, mas eu me lembrava que o carro tinha motor antigo e câmbio de quatro marchas ultrapassado. Na cidade, com etanol, a media ficava na casa de 6 km/l, enquanto na estrada, subia para 8,2 km/l. Com gasolina, eu conseguia, na cidade, média de 7 km/l e, na estrada, cerca de 10 km/l. O ar-condicionado estava ligado quase o tempo todo e, na estrada, o carro estava sempre carregado, com quatro pessoas e muita bagagem.

Um dos meus filhos foi morar sozinho enquanto o outro foi fazer intercâmbio. Logo, resolvi atualizar o Vectra, já que espaço no porta-malas deixou de ser uma prioridade. Foi então que comprei um Honda Civic LXL SE automático, o último da concessionária da minha cidade, segundo o vendedor, antes da chegada da nova geração. Fiz um excelente negócio (o novo Civic é muito feio e paguei quase R$ 12.000 a menos que o preço de tabela no meu LXL SE). 

Mas, mais uma vez, o consumo veio me assombrar. Com álcool, consigo mais ou menos 6,6 km/l na cidade e 9 km/l na estrada. Com gasolina, fico na casa de 7,5 km/l na cidade e não consigo passar de 11 km/l na estrada. Meu carro tem 19 mil km rodados e todas as revisões em dia. É uma decepção! A Honda prega a modernidade do seu motor, tem câmbio automático de cinco marchas, e o carro bebe muito. Sem contar que o tanque é pequeno. Tenho que parar no posto toda hora. Estou até pensando em trocar de carro.

Honda/Divulgação

Tenho medo agora de trocar o Civic num Novo Civic e sofrer com o mesmo problema. Tenho o mesmo medo com o Cruze. O Corolla eu não gosto e Hyundai eu me recuso a comprar. Vou esperar mais um pouco para decidir o que fazer.

Espero que você possa levar essa discussão para o seu blog.”

O internauta Marcelo Chicol também está bastante incomodado com a média de consumo do seu Celta Spirit, considerando um absurdo os números divulgados pela Chevrolet. Seu Celta tem ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros elétricos. Vejam a fala dele, seguida pela média de consumo do compacto, já publicada no Consumo Real.

“A propaganda que a GM faz é mentirosa e isso é um assalto ao consumidor que é enganado”.

. Chevrolet Celta Spirit 1.0 (2009/2010) – Na cidade, média de 6,5 km/l com etanol e 8,5 km/l com gasolina, com o ar-condicionado ligado 50% do tempo. Na estrada, com etanol, médias de 10,5 km/l (80 km/h e ar-condicionado ligado), 9,5 km/l (110 km/h e 120 km/h e ar-condicionado ligado) e 8 km/l (130 km/h e 140 km/h e ar-condicionado ligado). Com gasolina, médias de 12,5 km/l (80 km/h e ar-condicionado ligado), 11 km/l (110 km/h e 120 km/h e ar-condicionado ligado) e 10 km/l (130 km/h e 140 km/h e ar-condicionado ligado).

Chevrolet/Divulgação

Realmente achei a discussão merecia ver aqui para o blog. Boa parte dos donos dos mais de 240 carros que tenho as médias de consumo publicadas no Consumo Real reclamaram da média de consumo ao me enviarem os números. São poucos que elogiam ou que fazem algum comentário positivo.

O resultado da enquete, que ficou no ar por alguns dias aqui no De 0 a 100, reflete esta frustração geral:

Você está satisfeito(a) com a média de consumo do seu carro?

Não – 67 votos (76,1%)
Sim – 21 votos (23,8%)
Total – 88 votos

A tecnologia flex chegou para tornar o automóvel mais versátil na hora de abastecer. Além disso, ela permitiu diminui a dependência do petróleo por um alternativa renovável e bem mais limpa. Mas são poucos os motores que conseguiram atingir um equilíbrio em relação a desempenho e consumo com a tecnologia bicombustível.

Mas esse não é só o problema. O combustível vendido no Brasil é de péssima qualidade se comparado ao de outros países. Como eu disse em 2010 (esse post quase não fica velho), fico muito incomodado quando a Petrobras diz na TV que “todo carro sonha em ser abastecido com o combustível Petrobras” (obviamente nos postos BR). Mas por quê a gigante estatal não comenta nos comerciais que a sua gasolina, comum ou aditivada (Supra), produz 1.000 partículas por milhão (ppm) de enxofre? Ipiranga, Shell, Alê e outros postos também vendem suas gasolinas com o mesmo (altíssimo) teor de enxofre – e por preços absurdos se comparados ao de outros países!

Gasolina inferior

O pior de tudo é que a população brasileira será obrigada a conviver com essa gasolina de qualidade inferior, que polui mais o planeta e intoxica mais as pessoas, até o final do ano que vem! Só a partir de 1º de janeiro de 2014 é que o teor será reduzido para 50 ppm de enxofre (ainda superior ao valor atual da gasolina Podium da Petrobrás, que é de 30 ppm), de acordo com resolução publicada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Portanto, temos o problema do motor flex e da gasolina ruim, que comentei, e dos conjuntos mecânicos (motor/câmbio) que o Ricardo falou. Falta ainda um componente importante no “jogo do alto consumo”: o motorista (proprietário/usuário).

É dele o papel de cidade do veículo, mantendo a manutenção em dia, os pneus alinhados e calibrados, entre outras coisas. Ele também precisa ter consciência de que, se ele pisa mais, o seu carro vai beber mais (simples assim). Não adianta afundar o pé para fazer o desempenho melhorar, se depois ele reclama que o carro 1.0 dele bebe demais.

Para encerrar a minha parte inicial da discussão, achei estranha a propaganda da Allianz, que mostrar uma mulher que salvou um casamento (ou algo assim) por levar uma tralha no porta-malas. Ter uma capa de chuva, um moletom e um guarda-chuva é tranquilo, mas fiquei pensando se a mulher não teria outras coisas guardadas. Não custar lembrar que: peso morto aumenta o consumo do veículo!

Gostaria de ouvir a opinião de vocês! Se quiserem analisar (e enviar novos números) o consumo de dezenas de carro, acesse o Consumo Real do De 0 a 100. Se quiser fazer o seu carro beber menos, veja aqui algumas dicas.

Comentários

  • Félix disse:

    Como minha região é produtora de álcool, é vantajoso comprar um carro flex. Mas essa vantagem já foi muito maior uns anos atrás, e não vejo possibilidade de álcool tão barato de novo. Mas eu mesmo desisti de carro flex, pois estava de saco cheio de parar a cada 2-3 dias no posto. Nem sei como as pessoas aguentam esses carros nas grandes cidades!

  • Ivan disse:

    Parei de ler quando o leitor falou que fez um “ótimo negócio” ao comprar o último Civic antigo na concessionária. Daí já dá pra prever que iniciou fazendo tudo errado. O povo brasileiro não sabe comprar carro, isso está mais que provado por esta e outras.

  • Fabio Silva disse:

    Tenho um mille 09/09 que uso para o trabalho. Tem ar e direção. Na medição do INMetro disse que o carro faz 23 km/l. Na vida real com o ar ligado faz 12/13 km/l. E o olhe que o carro ta com a revisão em dia. A verdade é que nossos motores e combustíveis são uma porcaria.

  • Tenho um Clio 1.6 16v _ 03/04 gasolina e faço média de 12,5 km/l andando no horário de pico em Brasília. Vou trocar de carro, mas quando verifiquei o consumo dos flex me decepcionei. Aqui álcool nunca compensou pelo preço. E não to afim de pagar caro pra ser “verde” enchendo o bolso de usineiro que de verde não tem nada.

  • Ricardo M disse:

    Amigos, tive um Tucson antes do Vectra. Foi o pior carro que já tive na vida. Não deu muitos defeitos, mas, quando deu, ficava, no mínimo, 15 dias na concessionária. O pós-venda da Hyundai e do Grupo Caoa é algo que não recomendo para ninguém. Garantia que não funciona direito; peça que não chega; atendimento desorganizado (agendo para levar e, quando chego, não fizeram o agendamento). Meus filhos fizeram uma festa quando o Tucson foi vendido.

  • Anonymous disse:

    Ué o motor GM não era “BEBERRÃO”?? Não adianta discutir só quem já teve os para opinar, e digo mais Corolla 2.0 gasta bastante também.
    Quando puder trocar meu carro pretendo comprar um Mitsubishi Lancer GT 2.0,uma das únicas opções monocombustiveis do mercado.
    Gostaria de ver testes a respeito do mesmo.

    MQ

  • Ivan disse:

    Como se compra um carro? Caro “Anônimo”, nesse caso em que o internauta citou o Honda, a resposta está na cara: como você me compra um modelo antigo com o novo ao lado, no mesmo show room?! Preciso dizer mais alguma coisa? Presto consultoria nessa área e o que mais vejo são pessoas achando que estão fazendo o maio negócio de suas vidas e na verdade estão levando uma bomba pra casa.

  • Enrico disse:

    ivan, não sei se foi um mal negocio: o ricardo não gostou do novo civic e conseguiu um grande desconto no civic dele. não é todo dia que vemos um desconto de quase 12 mil num carro que custa 70 e poucos mil.

    estou com o ricardo: se ele gostou do carro e conseguiu um otimo preço, o negocio foi bom.

  • Ivan disse:

    Enrico, mais um…
    Se o desconto foi isso tudo. Mais um motivo pra eu não dizer nada. Ainda mais em se tratando de Honda, CAOA e tantas outras. Não negociam nem centavos, quanto mais 12 mil.

    Vamos acordar, gente. Também tenho um conhecido que ama a Brasília dele, mas disse que se encontrar um maluco, isso mesmo, são palavras dele próprio, maluco…. se ele encontrar essa pessoa que page 16 mil ele passa o carro que ele tanto gosta adiante.

  • Wladimir Pereira disse:

    Realmente este é um dilema

    No dia em que invetarem um cabeçote variável para etanol e gasolina e ambos resolvem o problema, mas como só no Brasil dependemos do etanol isto talvez não aconteça.

    Em Brasília – etanol nunca foi uma boa em termos de valor – etanol R$ 2,29 gasolina comum R$ 2,84 e aditivada R$ 2,85 (maio – 2012).

    Já tentei aqui no motor RENAULT 1.0 e 1.6 colocar 40% de etanol e 60% gasolina, mas para compensar em termos de economia o etanol teria de estar em R$ 2,00 no máximo. Mas Brasília é plana e se o você der a sorte do trânsito fluir esta fórmula aí compensa financeiramente.

    Mas concordo com todos quando os motores eram só gasolina eram mais econômicos.

    Já os FLEX quando abastecidos com 100% de etanol fazem a mesma média que me velho e rústico motor VW 8V Fusca/Variant tá, tá, tá de um VW GOL BX 1983 álcool e um VW PASSAT TS 1981 – motor AT 1.6 álcool, mas as média de consumo deste dois aí era entre 7 e 8 Km/litro. Não sei se o álcool daquela época era diferente do etanol da atual, ou vai ver eu sempre chamei errado. Mas esse motor FLEX aí tem de evoluir muito pra ser moderno neste carros 1600cc.

  • Os melhores consumos que consegui até hoje, dentre os carros que dirigi foram:
    Gasolina
    -Palio 1.0L fire 2005 pelado 17Km/l na estrada com velocidade máxima de 110km/h.
    -Honda Civic 1.7L 2003, automático, com ar ligado fez 16km/l na estrada com máxima de 130km/h.
    -Corsa Sedan 2001 1.0 com ar e direção fez 15km/l com ar desligado com máxima de 11okm/h.
    -Corsa Hatch 1.0 8v 1997 fazia 13km/l na estrada com máxima de até 160km/h, mas nunca baixava dos 13 na estrada.
    -Ford Ka 2012 com ar ligado faz 13km/l com máxima de 110, com áxima de 160 fez 10km/l
    – Ranger V6 4.0 média de 10km/l com ar desligado e máxima de 110 e média de 9km/l com ar ligado e usando piloto automático maior parte do tempo.
    -Xsara Picasso 1.6 média de 12,5 na trada, máxima de 120km/h com ar ligado.
    -Xsara picasso 2.0 média de 12km/l na estrada nas mesmas condições anteriores.
    -Honda CRV 2.0 2009 média de 10km/l na estrada com ar e máxima de 160km/h e sem usar piloto automático.
    -Dodge dart V8 5.2l 4 portas 1972, fez 12km/l na estrada (PASMEN)média de 100km/l. Na cidade fazia 6km/l
    -Ford Galaxie V8 5.0l, fazia 6km/l na cidade com facilidade e nunca peguei estrada, mas acredito que facilmente faria 10km/l a 100km/h.
    -Caravam 4.1 com modificações fazia média de 4km/l na cidade.

    Alcool
    Gol GTS 1.8 ano 1989, média de 8km/l na estrada

    Estão aí alguns carros que fiz média, outros apenas dirigi, mas são motivos para acreditar que a evolução da engenharia nesse quesito é muito lenta. Tem muito carro atual fazendo média similar aos “beberrões” da década de 1970, com a gasolina muito mais cara e ninguém reclama.

    Outra coisa, podem colocar a culpa na gasolina, mas a culpa é da falta de tecnologia dos carros nacionais, nada explica um Honda civic 1.7 automático ter um consumo na estrada similar a um Uno mille 1.0 com ar.

    E outra, ainda tem nego que vem me dizer que tem Gol que faz mais de 20km/l na estrada… Com certeza não sabe fazer a média.

  • Anonymous disse:

    Tive um Pálio 1.0 1997 4 p. sem ar que fazia 14 na estrada e 10 na cidade com gasolina;
    – Fox 1.6 c/ AC 6km/l cidade e 10km/l estrada (etano);
    – 207 Passion c/ AC e Citroen C3 1.4 c/ AC: 6km cidade e 10 km estrada;(etanol);
    – Kia Soul c/ AC: 7 km/l cidade e 10 km/l estrada (etanol), 8,5 km/l cidade e 13 km/l estrada;(mais econômico de todos).
    – Fox I motion 1.6 c/ AC: 5,5 km/l cidade e 10 km/l estrada.
    – Na verdade somente no Kia compensava gasolina, nos demais seria o álcool, ou seja, carro brasileiro sustenta política brasileira…

  • Delmo Holier disse:

    Bem amigos deixo aqui meu comentário sobre o consumo de combustível dos carros, tenho um Monza ano 95 a gasolina com motor 2.0, apesar da idade o carro ta bem novo e muito bem cuidado, sou segundo dono e peguei o carro nos 60.000 Klms rodados, sempre o mantenho revisado e em condiçôes impecáveis de funcionamento, faço uma revisão geral todo final de ano, ja to com ele a 4 anos, ando bastante e faço viagens longas, talvez fique difícil de acreditar mas ele faz 13,5 Klms por litro na estrada mantendo uma velocidade de 100 a 120 p/h, e é um carro possante muito espaço e confortável e anda muito, vejo ai a tão popularizada tecnologia dos carros mais novos e quanto consomem combustível, pra mim não tenho inveja de nenhum carro novo que ta rodando por ai, tavez um dia eu até compre um carro mais novo mas o Monza vai continuar comigo até quanto puder, temos carros mais novos na familia mas a reclamação é constante sobre o consumo deles, a éra do carro flex veio piorar a imagem das montadoras, deviam ter investido tecnologia nos motores a gasolina o que eu acho que daria um resultado muito mais satisfatório, mas como o mundo vai mudando então nos fazem engolir o que é oferecido ao consumidor, agradeço a oportunidade de ter conhecido o Site e poder expor aqui minha opinião.

  • Lucas jung disse:

    A tecnologia nem sempre é usada para crescer o mercado e sim crescer o valor de venda , carros mais econômico reduziria o consumo de petróleo assim sendo diminuiria o lucro dos donos de petrolíferas , em resumo, só se cria para beneficiar quem já tem !!

  • Laerte Pessoa disse:

    Eu não sei, mas acho que depende muito do motorista. Tive já dois vectras Challenge 2.2 16v. No começo bebia muito na minha opinião, mas depois que peguei o macete comecei a ver que a forma como se exige o motor é que faz bastante diferença. Num carro 1.0 você gasta mais combustível do que num carro 2.0 se for anadar igual. Cheguei a ver que o vecão fazia 14 km na estrada, na rua é mais complicado por conta do peso do carro, 8 no máximo. Hoje tô negociando mais um vecão 2.0 e não me vejo em outro carro e muito menos num 1.0. Abraços!

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