Governo descarta prorrogar IPI reduzido para carros, diz Mantega

 JULIA BORBA – de Brasília

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta terça-feira (31) que o governo não pretende prorrogar o IPI reduzido (Imposto Sobre Produtos Industrializados) para carros. Segundo ele, a venda de veículos deve bater recorde em julho deste ano, com 360 mil unidades vendidas.


“Se isso ocorrer – e ate agora já foram mais de 340 mil – este será o melhor julho de toda serie histórica, o maior volume de vendas da indústria automobilística no mês de julho. Portanto, o programa de estímulo foi muito bem sucedido”, afirmou Mantega.

Em maio o governo decidiu reduzir o IPI, como forma de impulsionar a indústria, que vinha em processo de desaceleração. O incentivo deve terminar em 31 de agosto. “Não está em cogitação nesse momento a prorrogação da redução do IPI. Isso foi o que nós combinamos e é o que estamos cumprindo”, disse o ministro.

Em outras ocasiões em que o IPI foi reduzido para estimular a economia – entretanto, houve prorrogação da medida. A decisão foi tomada após o governo ter anunciado que não manteria o imposto menor por um prazo maior que o previsto.

De acordo com Mantega, a medida foi tomada “em função da queda das vendas que estava ocorrendo e do acúmulo de estoques nas fábricas, o que poderia dar início a um processo de demissões”. “Estávamos preocupados com os projetos da indústria que tem grande participação na geração de empregos e no desenvolvimento do país”, disse.

Segundo o ministro, foi feito um “pacto” com a indústria: o governo reduziria o IPI e, em contrapartida, o setor se comprometeu a manter ou aumentar o nível de empregos.

De acordo com o ministro da Fazenda, ainda não foram divulgados os números para a geração de empregos para o setor no mês de julho, mas até junho o resultado era positivo. “Em junho foram criados 1.900 postos novos, portanto, foi cumprido o compromisso de não demissão”, afirmou Mantega.

Dados divulgados pelo ministério mostram que o setor empregou 146,9 mil pessoas em junho, frente aos 144,9 funcionários registrados em maio.

Ainda de acordo com informações do Ministério da Fazenda, a importação de veículos, que vinha atrapalhando a produção nacional, vem caindo fortemente em razão das medidas adotadas pelo governo e pelo câmbio favorável. “Em junho a queda nas importações foi de 30%. Com isso, o mercado brasileiro volta a ser ocupado pelo produto nacional”, disse o ministro.

CRISE

Segundo o ministro Guido Mantega, os programas de investimento feitos pelo setor, entre 2012 e 1015, devem representar R$ 22 bilhões. “O valor está programado, mas só vai ocorrer se o mercado continuar crescendo”, afirmou.

Para ele, a situação do Brasil se destaca frente ao cenário de crise mundial. Para ele, economia nacional continua “dinâmica e virtuosa” e que por isso os trabalhadores brasileiros não estariam percebendo a crise.

“O setor automotivo, por exemplo, está cumprindo a sua parte e nós continuaremos avaliando isso. Ainda temos um mês com redução do IPI e o setor deve continuar cumprindo o compromisso de continuar contratando”, assegurou.

Ainda segundo Mantega, o segundo semestre será melhor para a economia brasileira como um todo. “A economia está se aquecendo lentamente. A fase mais difícil foi superada, quando houve desaceleração da atividade econômica. Portanto, não tenho preocupação em relação a isso. Situação mais favorável daqui pra frente”, afirmou.

General Motors

Mantega também comentou a situação da GM e afirmou que, segundo os números apresentados pela empresa, o saldo de empregos está positivo. “Saíram matérias nos últimos dias, dizendo que a GM estava demitindo, portanto não cumprindo os compromissos, mas verificamos que eles estão admitindo mais do que demitindo”, disse.

O ministro destacou que este indicador não significa que não tenham ocorrido demissões. “É o saldo entre demissões e admissões. As contratações tiveram volume maior e isso é normal em todas as indústrias.”

“Há problemas localizados em São José dos Campos [SP]. Não cabe ao governo entrar nos detalhes, é [um assunto] da organização interna da empresa”, afirmou o ministro. “O que nos interessa é que GM tenha saldo positivo e esteja contratando, e isso está sendo cumprido”, emendou.

Especificamente sobre o caso da GM, Mantega disse também que não cabe ao Ministério da Fazenda administrar conflitos específicos trabalhistas. Esta tarefa caberia ao Ministério do Trabalho. “Do ponto de vista do acordo de desoneração, o prometido está sendo cumprindo”, reforçou.

Nesta manhã, Mantega se encontrou com o diretor de Relações Institucionais da GM, Luiz Moan, e saiu da reunião dizendo estar “satisfeito” sob o ponto de vista do acordo feito pelo governo com o setor.

O encontro serviu para que o governo pudesse pedir esclarecimentos sobre as ameaças de demissões na fábrica da montadora em São José dos Campos. “Este é um caso pontual, provocado pela realocação de investimentos produtivos. Temos esse problema em uma das fábricas e o pessoal foi admitido em outras unidades fabris”, disse o diretor da GM, Luiz Moan.

Segundo ele, o compromisso da companhia é de negociar de maneira cautelosa, com o sindicato e com o Ministério do Trabalho, como ficará a situação dos funcionários. “Teremos uma próxima reunião no dia 4 próximo, onde a GM espera receber do sindicato ideias para o melhor tratamento da situação”, destacou.

Moan informou ainda que a geração de empregos nas fábricas da GM passou de 1.848 vagas no início de 2008 para 2.063 vagas em 2012. O diretor reconheceu, no entanto, que deve haver desligamentos devido a esse reposicionamento de investimentos.

“Temos excedente em uma das fábricas de São José dos Campos, temos o compromisso de negociação cautelosa com o sindicato”, comentou o diretor da GM.

PARALISAÇÃO

Os trabalhadores da fábrica de São José pararam a produção por aproximadamente uma hora nesta terça-feira. A ação faz parte de uma série de manifestações que os operários, encabeçados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, vêm realizando em protesto à ameaça da companhia de fechar a linha de MVA da unidade e demitir 1.500 trabalhadores.

O MVA é o setor responsável pelas marcas Corsa, Classic, Zafira e Meriva, que seriam descontinuadas ou transferidas para outras unidades da companhia, segundo o sindicato. A empresa adiou para o fim desta semana qualquer decisão sobre o futuro da fábrica.

Fonte: Folha de S. Paulo

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