Uma viagem no tempo a bordo de um Chevrolet Classic na Argentina

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Chevrolet Classic LS 2016

Quem diria que, depois duas décadas, eu, finalmente, voltaria à Argentina, onde disputei um campeonato de basquete nos anos 1990. Pude, inclusive, voltar a algumas cidades onde disputei várias partidas, como Buenos Aires e Rosário. Além de exaustiva, trabalhosa e divertida, essa visita foi muito curiosa, pois, literalmente, voltei 20 anos no tempo, pois aluguei um Chevrolet Classic, modelo que, basicamente, não mudou nada em seus 21 anos de mercado!

Realmente fui ao passado no sentido automotivo, pois o modelo da Chevrolet nasceu lá no final de 1995, como Corsa Sedan, mas, desde 2003, se chama Classic (é a única “classe” que o carro tem desde então). Com isso em mente, fiz dois textos de análise, um, como se fosse há 20 anos, e outro, atual, de 2016. É interessante notar como poucas coisas mudaram e como chega a ser até surpreendente um carro com um projeto tão antigo durar tanto tempo.

No Brasil, o Classic viu o lançamento e morte do Celta, Prisma (primeira geração), Agile, Meriva, Zafira, Astra (nacional) e, por que não, do Vectra (em parte). Quem diria que o Corsa Sedan original fosse durar tanto tempo. Se ele fosse um carro ruim, não estaria conosco até hoje. Mas, veja a baixo, como a vida muda, evolui e ficar parado no tempo pode ser uma ideia muito ruim.

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Chevrolet Classic é vendido apenas na versão LS na Argentina e no Brasil

CHEVROLET CORSA SEDAN (CLASSIC) EM 1996

Cheguei ao Aeroparque, em Buenos Aires, e fui direto ao balcão da locadora, onde o funcionário me deu a chave de um recém lançado Corsa Sedan. Compacto por fora (4,152 m de comprimento), o modelo se destaca pelas linhas idênticas às do irmão hatch, mas com um volume extra, com um porta-malas que comporta ótimos 390 litros de capacidade.

O visual do Corsa é bonito e harmônico, com direito a retrovisores e maçanetas externas pintadas da mesma cor da carroceria. Só não entendi porque o carro era branco, cor usada por taxistas de muitas cidades brasileiras e que é muito incomum nos automóveis nesse final de século 20.

Por dentro, o Corsa Sedan está à frente do seu tempo. A única versão ofertada na Argentina, LS, traz, de série, equipamentos até então disponíveis apenas para importados e sedãs maiores (ex: Omega), como freios ABS (que não deixa as rodas travarem durante a frenagem), airbag duplo frontal (bolsas de ar que inflam em milésimos de segundo para reduzir o impacto de quem está nos bancos da frente em caso de acidade), direção hidráulica e ar-condicionado. A segurança também é grande para os passageiros do banco de trás, que contam com cinto de três pontos nas laterais e dois apoios de cabeça. Outro ponto que merece destaque é a qualidade dos faróis, que garantem ótima visibilidade noturna, e o brake light, uma terceira luz de freio, localizada na parte de cima do vidro traseiro, que aumenta a segurança.

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Visual cansado do Chevrolet Classic chegou em 2011, vindo da China

Os ocupantes também encontram muito conforto, pois há um bom espaço interno (semelhante ao do Ford Escort), os bancos são atuais e bem projetados, garantindo tranquilidade até em viagens longas. O acabamento é honesto (o alinhamento de algumas peças do painel poderia ser um pouco melhor) e o volante, que parece vindo do futuro, tem ótima empunhadura, com os dois botões da buzina localizados nas laterais.

Que som é esse?

O sistema de som do Corsa traz o que existe de mais tecnológico no mercado mundial. Com um visual moderno, tem rádio AM/FM, CD Player e é capaz de ler MP3, formato recente de arquivos para músicas que está cada vez mais popular. As caixas acústicas são boas e estão totalmente em linha com o que esperamos dos carros de 1996.

Esse sistema traz também uma tecnologia que ainda está em fase de desenvolvimento e que, portanto, não tem quase nenhum uso, chamada Bluetooth. Pelo que entendi das escassas informações que encontrei, ela permite que dois aparelhos se conectem sem a necessidade de fios (wireless, em inglês). Um desses aparelhos seria o carro; o outro, imagino, seriam celulares, headphones, discmans, pagers e palmtops.

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Painel revela o peso da idade do Chevrolet Classic. Volante tem botões da buzina nas laterais

O Classic conta ainda com um único pacote de opcionais, que se destaca pelo alarme, travas e vidros elétricos.

Desempenho e consumo

Debaixo do capô está o surpreendente motor 1.4 8V a gasolina, que desenvolve 92 cv de potência, número que impressiona, pois é a mesma força do propulsor 1.6 8V MPFI da General Motors usado em outros modelos da companhia.

Associado a um câmbio manual de cinco marchas com bons engates, consegui arrancadas vigorosas, especialmente depois de colocar a segunda marcha (a primeira é mais curta), e um ótimo desempenho nas estradas argentinas, onde pude explorar o sedã em velocidades mais altas, variando entre 100 km/h e 130 km/h. Nessas velocidades, o Corsa Sedan é um pouco ruidoso, mas nada que fuja dos padrões atuais de 1996, ainda mais para um carro alugado.

Parte desse segredo está no ótimo coeficiente aerodinâmico do modelo, de 0,35 cx, muito superior ao do Chevette (0,45 cx), o que o permite enfrentar bem a resistência do vento. A única mudança que eu faria seria trocar as rodas de aro 13” por 14”, maiores e mais largas, que melhoraria o comportamento na estrada.

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Passageiro central do banco traseiro viaja com pouca segurança

Em relação ao consumo, rodando com gasolina nafta argentina, consegui média de 11,9 km/l (resultados de duas medições mistas: 10,7 km/l e 13,1 km/l), rodando 85% na estrada e 15% na cidade, número que considero muito bom, alcançado graças ao baixo peso do modelo: 905 kg. O tanque de 54 litros de capacidade garante excelente autonomia.

Resumo da obra

O substituto do Chevette surpreende e mostra que a Chevrolet está muito bem alinhada à Opel. Unir os padrões de um carro europeu com os detalhes específicos dos brasileiros é algo necessário e que precisa ficar cada vez mais comum.

O Corsa Sedan é um carro bem acertado, com porta-malas interessante, bom acabamento, ótimo porta-malas, um motor (1.4) que parece vindo do futuro e uma lista de equipamentos de série de dar inveja a carros mais requintados. Não tenho dúvidas de que ele será uma grande opção do mercado, que conta ainda com o Ford Escort e que terá como novidade uma versão sedã do Palio, futuro lançamento da Fiat.

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Chevrolet Classic LS é vendido com motor 1.4 a gasolina na Argentina

CHEVROLET CLASSIC (CORSA SEDAN) EM 2016

Cheguei ao Aeroparque, em Buenos Aires, e fui direto ao balcão da locadora, onde o funcionário me deu a chave de um Classic. O modelo tem, basicamente, o mesmo visual há mais de 20 anos, com destaque apenas para a “grande” alteração visual feita pela Chevrolet em 2011, quando o modelo ganhou a cara do Classic da Chinaonde ele é vendido como Sail e tem uma geração mais nova do que a nossa. Por aqui, o veículo continua compacto por fora (4,152 m de comprimento) e com um bom porta-malas, com capacidade para 390 litros.

Embora seja uma análise subjetiva, o visual do Corsa é ultrapassado e feio. A harmonia de anos atrás se perdeu com o tempo e, pelo visto, o sedã jamais terá outra mudança estética significativa até sair de linha, num futuro que varia de curto e médio prazo.

Por dentro, o Classic dá ainda mais sinais de cansaço. Na Argentina, a única versão disponível, LS, traz o trivial como equipamentos de série, com freios ABS com EBD, airbag duplo frontal, brake light, direção hidráulica e ar-condicionado. Os passageiros laterais do banco traseiro contam com cinto de três pontos e apoios de cabeça, enquanto quem vai no meio sofre sem o apoio e com cinto abdominal. A iluminação dos faróis, outrora elogiada, é insuficiente, deixando muito a desejar em viagens noturnas na estrada.

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Porta-malas do Chevrolet Classic tem 390 litros de capacidade

Em termos de conforto, os ocupantes encontram um carro com espaço interno bastante limitado na frente e ruim atrás (graças ao entre-eixos de 2,443 m), acabamento pobre (com muitas peças desalinhadas) e banco ultrapassados, que cansam muito o corpo em viagens longas. Apenas o volante é mais atual (a localização da buzina, nas laterais, é estranha) – já foi trocado algumas vezes, sempre evoluindo em relação ao horroroso e com péssima empunhadura volante que equipava o modelo no início, sim, aquele de dois raios.

Que som é esse?

O sistema de som do Classic, que fica numa posição muito baixa no painel, com uma tela monocromática de ruim visualização, traz o mínimo que se espera desse equipamento hoje: rádio AM/FM, CD Player, leitura de arquivos em MP3 e WMA, além de entrada USB, auxiliar e conexão Bluetooth para smartphones e tablets. Uma pena que a qualidade das caixas acústicas seja tão ruim, parecendo um produto de quase 20 anos de idade, que obriga o motorista a colocar o volume muito alto para ouvir alguma coisa.

O Classic conta ainda com um único pacote de opcionais, que se destaca pelo alarme, travas e vidros elétricos – itens que, num veículo vendido no século 21, deveriam ser de série, assim como ajuste de altura e profundidade do volante, ajuste de altura do banco do motorista, botão interno para abertura do porta-malas, trava associada à tampa do tanque de combustível (é velho demais dar a chave do carro para o frentista), entre outros.

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Chevrolet Classic tem um dos piores espelhos retrovisores da atualidade

Desempenho e consumo

Debaixo do capô está o motor 1.4 8V a gasolina, que desenvolve 92 cv de potência na Argentina, número igual ao do propulsor 1.6 8V que equipava o então Corsa Sedan no passado. Embora sua força não pareça lá essas coisas, dar ao pequeno sedã uma motorização maior do que a 1.0 foi uma ótima ideia da General Motors.

Por mais que o 1.4 bicombustível da marca tenha mais potência no Brasil (98 cv com gasolina e 106 cv com etanol), eu consegui, com o Classic 1.4, associado a uma transmissão manual de cinco velocidades (com engates ruins), arrancadas vigorosas, especialmente depois de colocar a segunda marcha (a primeira é mais curta), e um ótimo desempenho nas estradas argentinas, onde pude explorar o sedã em velocidades mais altas, variando entre 100 km/h e 130 km/h. Acima dos 100 km/h, o Classic é extremamente ruidoso, especialmente para os padrões atuais, mesmo para um carro de locadora (que não tem o mesmo carinho e cuidado do que um veículo com um dono de verdade).

Parte desse barulho está no coeficiente aerodinâmico do modelo, de 0,35 cx, que não é ruim, mas que poderia ser melhor, uma vez que, em muitos momentos, fiquei com a sensação do sedã parecer um tijolo, enfrentando toda e qualquer resistência do vento “de peito aberto”. Colocar um motor maior no Classic deveria trazer junto rodas maiores, de 14”, que seriam bem mais adequadas que as de 13”, o que garantiria mais estabilidade e conforto, especialmente na estrada, onde o modelo sofre com os deslocamentos de ar laterais (vindos dos caminhões).

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Chevrolet Classic na sua foto oficial da marca na Argentina

Em relação ao consumo, rodando com gasolina nafta argentina, consegui média de 11,9 km/l (resultados de duas medições mistas: 10,7 km/l e 13,1 km/l), rodando 85% na estrada e 15% na cidade, número que considero muito bom, mas que poderia ser melhor pelo fato do veículo não ser bicombustível, alcançado graças ao baixo peso do modelo: 905 kg (número oficial da General Motors, igual ao do Classic 1.0 brasileiro, mesmo com o argentino tendo propulsor 1.4). O tanque de 54 litros de capacidade garante boa autonomia.

Resumo da obra

O carro mais velho em produção no Brasil (entre os que são, literalmente, o mesmo carro), o Classic é o símbolo de uma Chevrolet que precisa desaparecer. Ele é desconfortável, apertado, superado, embora tenha um porta-malas interessante pelo seu tamanho e um bom desempenho (mesmo o 1.0), além de mecânica confiável.

Sua lista de equipamentos deixa a desejar e traz o mínimo necessário. Além disso, o carro não oferece, definitivamente, nenhum diferencial de mercado (perdeu segurança em 2015 e recebeu direção hidráulica de série em 2016). Como a maioria dos automóveis no Brasil, ele é caro pelo que oferece (varia entre R$ 32.670 e R$ 35.020).

Mas, como falei no início, o Classic não é um carro ruim, só está totalmente ultrapassado. A Chevrolet da Argentina o valoriza como um “clássico que se mantem”. Mas, se a marca quer ser vista como uma empresa moderna e com soluções tecnológicas, ela precisa rever os seus conceitos, afinal, “encontrar novos caminhos” com carros superados não é mais possível. Caso fosse, bastaria para a empresa alterar a sua “frase de efeito” para Chevrolet: Find new roads with old cars”.

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Locadora coloca um adesivo na parte traseira do carro na Argentina

Hertz

Na Argentina, o aluguel do Classic foi feito na Hertz, única locadora que tinha carro disponível. Como pude comprovar, na prática, no final de 2015, ela é uma empresa desonesta. Pelo menos, dessa vez, tirando a qualidade geral do veículo, não tive nenhum problema grave – apenas o carro estava com a seta dianteira esquerda queimada, nem todas as posições do ventilador funcionavam (pelo menos estava com vento para frente e para cima) e a luz de manutenção acendeu no painel depois de 100 km rodados – dos meus 834 km ao todo.

Comentários

  • pedro rt disse:

    tive um ha exatamente 10 anos atras e vendi ha 6 anos atras, e um bom carro na robustez e economia de combustivel alem claro do portamalas se comparado aos hatches de entrada e so!

    • Edson disse:

      Boa tarde!!
      possuímos um Classic ano 2012, vindo de Ijuí/RS, veículo robusto, com excelente estabilidade, forte, com bom arranque e ótimas retomada de velocidade, com um motor 1.0. Parabéns!! a GMC do Brasil.

  • Falar mal sem ter um fácil ,quanto tecnologia etc tudo bem ,tenho um 2011/2012 e nunca deu nada com 55 mil rodados carro excelente confiável etc ,muitas matérias e aqui mesmo em 2013 dizendo ser o melhor da categoria e o tal Gol em último.vejam aqui a matéria e criticar sem sentido ah lembrando o carro mais vendido perdendo apenas para o Fusca que ficou mais anos em vendas ,será que vendeu tanto se sorte ou pq é um carro forte e confiável etc etc etc

      • thiago disse:

        otimo carro parceiro,,sempre tem alguem querendo compara-lo a carros com extremo conforto,componentes,acessorios etc etc…
        Esse e um carro modesto,com projeto antigo,claro nao da pra negar,,,mas pelo seu valor comparado aos da atualidade ele e muito…nao preciso citar exemplos aqui,,,,mecanica barata,PEÇas baratas e facil de encontrar…e nao vai a oficina facil…

  • Oliveira disse:

    Tenho em casa um civic 2018 e um classic 14 lá 1.0 da minha esposa. Minha analise comparativa entre ambos: o Grande diferencial no confonto e itens tecnológicos é grande, porém, o preco de aquisição também é! ( não pode è o sujeito querer o mesmo conforto pagando o mesmo preço). Falando em centrais multimídia e tal…Classic parou no tempo nesse quesito. Porem nunca foi essa a ideia da GM pra esse carro. E sim a grande sacada era o preço e manutenção barato, que deu muito certo .
    Design Do classic eu particularmente ainda acho bonito mesmo depois de todos esses anos sendo o mesmo. Se comparado aos ridículos modelos atuais como exemplo o Fiat mob e o HB 20 ano 20020 kkkk. Que mais parece os desenhos de minha filha de 7 anos.
    Nos quistos mecânica de robustez e confiabilidade ambos entregam o mesmo . porém o GM é baratinho de manter, sendo Ótimo pro dia a dia. Carinho agil, econômico e u ótimo pra estacionar Mas Pra viagem muito longas como o Honda entrega conforto superior viajamos sempre nele.

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