Papo Ligeiro – Red Bull bem além da exposição

Expor carros de corrida é uma tática comum entre empresas envolvidas no esporte a motor. Tal manobra é encarada como uma excelente possibilidade para atrair fãs de automobilismo a um local onde a marca possa oferecer produtos, serviços. Ou simplesmente para conceder um ar temático a eventos destinados à imprensa e a festas do próprio time. Contudo, os bólidos em questão nem sempre possuem um histórico nas pistas ou estão em sua composição original. É muito comum ver carro de dois, três anos atrás, com uma pintura mais recente. Aos observadores, isso pode até passar batido. E não é nenhum demérito. Afinal, muitos acompanham essas máquinas somente pela televisão.

Na semana seguinte GP Brasil do ano passado, a Red Bull organizou um evento em um famoso hotel no Morumbi, zona sul de São Paulo. Um de seus carros estava por lá, no estacionamento do cinco estrelas. Bem diferente da maioria das exposições, o monoposto não ficava sob qualquer tipo de isolamento. Você podia observar detalhes, tirar fotos próximo ao carro. Tocá-lo. Sem frescura.

Quando vi o monoposto, ainda à distância, pensei que se tratava do RB6. Modelo da equipe austríaca na temporada 2010. Por quê? Simples: foi justamente nesse ano em que o número cinco estampou um carro da Red Bull. Única vez em sete temporadas do time na Fórmula-1. Contudo, quando me aproximei do carro – que não tinha sequer uma placa com informações disponível, notei que a situação era diferente. Um “pouco” diferente.

Para começo de conversa, as rodas dianteiras possuíam calotas aerodinâmicas. Esses itens foram usados por muitos times em 2008 e 2009. Inclusive pela própria Red Bull. Contudo, ao fim da temporada 2009, foram banidos. A alegação era de que as peças atrapalhavam o trabalho dos mecânicos nos pit stops e, de quebra, aumentavam a turbulência do carro que vinham imediatamente atrás de outro.

Logo, as rodas só podiam ser de 2008. E por quê? Simples. Os pneus slicks voltaram à Fórmula-1 no ano seguinte. E os rodantes Bridgestone presentes no carro da exposição possuíam quatro ranhuras, algo presente no regulamento técnico da categoria de 1998 a 2008.

E o “resto” do carro… De quando seria?

Logo, reparei um detalhe interessante. Os aerofólios do Red Bull se estendiam até a parte interna dos pneus. Em 2009, por conta da busca por um pacote aerodinâmico que facilitasse ultrapassagens, o aerofólio traseiro dos carros tornou-se mais estreito. Já o dianteiro ganhou em comprimento, sendo projetado até a linha externa dos pneus. Sem se esquecer que a frente do monoposto em exposição era caída. Desde 2009, os carros da equipe da fábrica de bebidas energizantes possuem “nariz alto”.

Peças juntadas. O monoposto era de 2008. O RB4. Da época em que a Red Bull não dava asas aos seus carros. Sequer fazia sombra ao rendimento dos últimos dois anos, quando faturou quatro títulos. Um terceiro lugar no GP da Alemanha, com Mark Webber, 29 pontos e o sétimo posto entre 11 equipes no Mundial de Construtores. Nada mais.

Mistério desvendado? Em partes. Por que não buscar informações sobre quais foram os Grandes Prêmios que o carro poderia ter disputado?

Há uma característica que, sinceramente, chamou minha atenção apenas após conferir as fotos que tirei do RB4. Trata-se do posicionamento dos retrovisores, nas extremidades dos sidepods do monoposto. Ao analisar fotos da temporada 2008, descobri que (pasme!) essa configuração foi usada em apenas um Grande Prêmio: o de abertura daquele campeonato, na Austrália. Detalhe curioso – e que nem lembrava mais – é que David Coulthard se envolveu em um acidente com Felipe Massa na prova. O escocês reclamou da localização dos retrovisores em seu carro e, na corrida seguinte, na Malásia, a equipe instalou as peças mais próximas ao cockpit do bólido.

Carros de 2008, posicionamento de retrovisores presente no monoposto em Melbourne… Mas não para por aí. As laterais do aerofólio traseiro possuíam um desenho bastante diferenciado. Procurar as corridas em que o tal aerofólio deu as caras tornou-se questão de honra.

No bom e velho português, fucei o canal de imagens do media site da Red Bull de cima a baixo. Após bastante tempo de pesquisa, encontrei um extremamente semelhante ao dito-cujo em ação. Apenas durante o fim de semana do Grande Prêmio da Itália de 2008. Sim, aquele mesmo vencido por Sebastian Vettel, a bordo de um modesto Toro Rosso.

Carros de 2008, posicionamento de retrovisores igual ao monoposto em Melbourne, laterais de aerofólio traseiro semelhantes aos da etapa em Monza… Não descarto a possibilidade de que esse chassi já tenha ido às pistas, para uma corrida. Mas certamente jamais iria a um Grande Prêmio com tamanha “variedade” em sua composição.

De qualquer modo, Nice to meet you Red Bull RB4!

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