Impressões: Ford Ecosport: bom na cidade, valente na trilha leve e reprovado na estrada

Com tantas Impressões publicadas, o Pedro já virou um cidadão honorário do De 0 a 100. Sua mais nova aventura foi a bordo de um Ford EcoSport, da atual geração, que se despede em breve do nosso mercado – sendo substituído por um modelo totalmente novo. As impressões do Pedro em relação ao jipinho da Ford são bem parecidas com a minha. Confiram!

Quem quiser participar do Impressões, como o Leônidas, o Rafael, o Jow, o Hugo, o Bruno, o Joathan, o Leônidas (de novo!), o Hugo Leite, o Pedro, o Piauí Jr., o Renato Dantas, o Mário Cesar, o Mário Cesar (de novo!), o Renato Dantas (de novo!), o Joathan (de novo!), o José Barbosa Júnior, o Jefferson de Oliveira, eu mesmo (Volvo XC60, Astra e Lincoln Town Car), o Leonardo Vilela, o Mário César (mais uma vez!), o Pedro (de novo!), o Wladimir Pereira, o Wladimir Pereira (de novo!), o Pedro (de novo!), o Éder Sibilin, o Pedro (de novo!) e o Pedro (mais uma vez), basta enviar um e-mail para renatoparizzi@gmail.com. Fale um pouco sobre o seu carro. Descreva os pontos positivos, negativos e conte alguma coisa curiosa! E não se esqueça de mandar fotos do veículo (só serão publicados posts com fotos). Fique tranquilo porque a placa (ou algum outro detalhe) não será mostrada.

Ford EcoSport Freestyle

Lançado em 2003 e construído sobre a plataforma do Fiesta de segunda geração, o EcoSport se beneficiou do crescente mercado dos aventureiros urbanos para se tornar um sucesso nas ruas brasileiras. Motivos para isso não faltaram, tais como o visual de “jipinho”, a posição elevada de dirigir e o preço reduzido quando comparado aos “SUVs de verdade”.

Com aproximadamente 10 anos de mercado, o EcoSport da geração atual chegou ao fim de seu ciclo de muito sucesso no Brasil. Mas somente em 2012 tive a chance de assumir o volante do Ford, versão 1.6 Freestyle, em um longo teste de fogo.

Versão alugada foi a Freestyle básica.

Foram 700 km de asfalto e 600 km de terra. Rodovias, trânsito urbano, lama, cascalho e até mesmo “dentro d’água”, fiz o que todos deveriam ter a oportunidade de fazer antes de comprar um carro (conhecê-lo a fundo em todas as situações). Nos três dias de contato com o veículo, o Eco se mostrou bem acertado para o uso urbano e off-road (sem grandes pretensões), mas alguns aspectos negativos prejudicaram o modelo em viagens longas e ciclo rodoviário.

Aluguei o Ford para me auxiliar em um trabalho realizado nos municípios mineiros de Pirapora, Buritizeiro, Três Marias e Várzea da Palma. Após retirá-lo da locadora e encarar um trânsito pesado, fiz uma avaliação do interior do jipinho.

ESPAÇO INTERNO, ACABAMENTO E HABITABILIDADE

Observado de fora, os 4,24m (com estepe) do modelo aparentam ser maiores do que realmente o são, muito por conta da plataforma herdada do Fiesta, que atrapalha a habitabilidade. De negativo, destaco os materiais e desenho dos painéis no interior, que arremetem a algo antigo e de qualidade questionável; o espaço para os pés muito limitado sob os bancos traseiros; o encosto de cabeça traseiro que não tem utilidade; a falta de descansa pé para o motorista, sendo difícil apoiá-lo na caixa de roda; o porta-malas, de 296 litros, tão pequeno quanto o do Fiesta; e a escassez de equipamentos de segurança.

Ford/Divulgação
Interior e acabamento simples não condizem com o preço cobrado no modelo. O Ford também deve em equipamentos.

Por falar nos equipamentos, o Ford que, na versão Freestyle, custa em torno de R$ 50 mil, é equipado com: trio elétrico; direção hidráulica (sem ajuste de profundidade, como no Fiesta); ar-condicionado manual; som My Connection, com entrada USB, para iPod e Bluetooth; volante revestido em couro; faróis de neblina; rodas aro 15’’ calçadas por pneus de uso misto Scorpion; computador de bordo com consumo médio e limitador de velocidade; compartimento refrigerado no porta-luvas. Mas nada de ABS e/ou airbags. Um carro pouco equipado e seguro para o preço cobrado.

Já o número de porta-objetos; sistema de som My Connection e a boa posição de dirigir (apesar da falta de um local adequado para apoiarmos o pé) me agradaram. O espaço interno, por sua vez, embora o Eco seja em sua essência um carro compacto, é razoável para pernas, cabeça e largura interna.

NA CIDADE

Antes de acessar a BR-040 rumo a Três Marias, busquei 3 companheiros de trabalho em suas casas para seguir viagem. No trânsito, as constantes mudanças de marcha atenuaram a falta do descansa-pé. Já a suspensão é bastante macia e filtra bem os buracos, garantindo um rodar sem grandes solavancos em pisos irregulares. O peso razoável da direção, o bom câmbio e torque em baixas rotações, somados à boa visibilidade, tornam o Eco um veículo agradável para a cidade, mas à medida que fomos colocando mais pessoas e bagagem no veículo, a minha relação com o Ford foi abalada.

NA ESTRADA

Após colocar 3 das 4 pessoas no carro, fomos obrigados a posicionar o restante da bagagem entre os ocupantes no banco traseiro. O compartimento destinado a este uso, que aparentava ser pequeno, ficou ainda menor quando colocamos a primeira mala, daí a constatação que o espaço para bagagem é bastante diminuto. Depois de remanejar as bolsas, nos acomodamos e seguimos para a estrada.

Sob a luz da lua na BR-040, pude ver que os faróis têm iluminação apenas razoável. Aproveitamos a viagem tranquila para conversar e ouvir música, mas nesse momento percebemos uma falha grave do modelo: o elevado ruído de rodagem, tão alto que era necessário elevar o tom da conversa. Faltou capricho na manta que isola as caixas de roda.

Alguns minutos mais tarde, já no trecho de pista simples do caminho, aproveitei a ocasião para explorar melhor o câmbio e os limites do motor 1.6 8v de 107 cavalos e pouco mais de 15,5 kgfm de torque (abastecido com álcool).

E foi na estrada que ficou evidente a simplicidade do projeto. O bom acerto para o uso urbano não se aplica ao ciclo rodoviário. À exceção do câmbio, que apresenta ótimos engates e é bem escalonado, a direção, os freios, o motor e a suspensão não são o que eu considero ideal, mesmo levando-se em conta as limitações da cilindrada e a faixa de preço em que o Ford se insere.

O motor carece de força em altas rotações e tem funcionamento um tanto áspero e ruidoso nessas condições (um cabeçote 16V resolveria parte dos problemas). A suspensão, os freios e a direção, acima dos 100 km/h, não transmitem segurança ao motorista. Caso seja necessário efetuar alguma manobra de emergência, o comportamento deste modelo de suspensão elevada e “mole” não é dos mais previsíveis. E o fato de ter que apoiar meu pé esquerdo no tapete também não agradou.

FORA DE ESTRADA

Depois de 3 horas de viagem e uma pernoite em Três Marias, iniciamos o trabalho às 8h da manhã e o terminamos às 17h no primeiro dia. Foram 9 horas dentro do carro em várias estradas de terra às margens do rio São Francisco (detalhe: recorremos às barrinhas de cereal ao invés de uma pausa para o almoço).

Quanto mais rodávamos em estradas ruins, mais era evidente o tanto que aquela suspensão macia amenizava o bombardeio na coluna dos 4 ocupantes. Mas quem viaja à frente tem mais conforto, seja pela calibragem mais macia da suspensão dianteira, seja pelo maior espaço para os pés – uma estranha estrutura metálica sob os bancos dianteiros rouba bastante o conforto de quem vai atrás.

No uso off-road sem grandes pretensões, o modelo se saiu muito bem, favorecido pelos bons ângulo de entrada e vão livre do solo.

Na hora de cruzar córregos e trechos alagadiços, os 20 centímetros de vão livre do solo e os 28º de ângulo de entrada levaram o Eco a lugares que um modelo compacto e baixo dificilmente iria. Em alguns momentos, cruzamos afluentes do rio São Francisco com água acima da linha inferior da porta, e para nossa felicidade nenhuma gota infiltrou para dentro da cabine. Merecem destaque também os pneus Scorpion de uso misto, que foram importantes aliados na hora de atravessar trechos com um pouco de lama e areia fofa.

Assim como na cidade, o motor, o câmbio e a direção também estão afinados para o uso “off-road” sem grandes pretensões. Ao fim de 2 dias abusando do modelo em estradas sem pavimento, nas mais diversas situações, o jipinho foi aprovado para o uso e aparentou robustez. Vale destacar que, apesar da baixa qualidade do acabamento e dos materiais no interior, não se ouvem muitos ruídos provenientes dos plásticos no habitáculo, mesmo em se tratando de um modelo de locação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No retorno a Belo Horizonte, levamos o carro para ser lavado, pois tinha barro até no chaveiro. Após um bom banho, entreguei o veículo à locadora com duas certezas: a de que recorreria a ele para um trabalho futuro e a de que não compraria o modelo, nem mesmo a versão mais completa, com motor 2.0.

Em todo o contato que tive com o Ford, ficou evidente que ele não consegue agradar aos dois usos predominantes à maioria das pessoas: o rodoviário e o urbano. Por se tratar de um projeto simples, essencialmente um Fiesta com suspensão elevada, o bom acerto para um uso o prejudica para o outro.

Tem-se a sensação de que faltou cuidado na hora de pensar no interior, quer sejam pelos deslizes na ergonomia, quer sejam pelos problemas de acabamento. Mesmo conhecendo as limitações do uso de um propulsor 1.6 em um modelo de mais de 1.150 kg, as respostas ao acelerador e o conforto acústico em ciclo rodoviário são inferiores à do veículo 1.6 (e mais pesado) que possuo na garagem. Soma-se a isto que, acima dos 100 km/h, o acerto de direção, freios e suspensão é o que posso classificar como “traiçoeiro”.

Gastando-se pouco mais de R$ 50 mil, pode-se levar qualquer hatch médio moderno (que atendem mais ao meu uso) para a garagem e, como consequência, mais conforto, segurança e desempenho, por um valor não muito diferente do cobrado no Ford.

Mas se o comprador fizer vista grossa para vários aspectos negativos no interior do veículo e referentes ao comportamento na estrada, o EcoSport é uma opção válida, pois é agradável de dirigir na cidade e na terra, além de ser uma boa opção para quem busca um carro mais alto para trabalho em regiões com piso irregular.

Espero que, em sua nova geração, a Ford refine a construção do modelo, corrigindo ou amenizando os problemas de ergonomia e melhorando seu comportamento na estrada, pois é onde o bicho pega quando o assunto é EcoSport. 

Opinião do blogueiro

Como eu disse no início, concordo com quase tudo que o Pedro escreveu. Vou ainda mais além: testei o Ford EcoSport 2.0 automático na cidade e estrada e sofri com os mesmos problemas de barulho e de desconforto para a perna esquerda (motorista). Achei também que o motor 2.0, casado com o câmbio automático, demorou um pouco para responder, mas nada de exagerado ou fora do esperado.

O espaço pífio do porta-malas nem merece meu comentário. Em relação ao acabamento, reconheço que ele melhorou com o tempo, mas ainda deixa a desejar, especialmente se pensarmos em veículos com com preços que variam entre R$ 50.000 e R$ 65.000.

Para rodar na cidade e numa trilha leve no final de semana, o EcoSport atual atende bem. Para viagens mais longas, ele realmente deixa a desejar.

Fecho com uma história bem resumida: em 2004, fui convidado para o lançamento da nova Ranger. O teste com a picape aconteceu durante a manhã, com trechos de cidade, estrada e trilha. No entanto, choveu torrencialmente na noite anterior ao teste. Logo, a trilha virou lama, e a diversão só aumentou.

Quando chegamos ao ponto de encontro, depois de usarmos a tração 4×4 reduzida, um EcoSport 4×4 amarelo nos aguardava no local. Quando desci do carro, fiz a seguinte pergunta ao engenheiro da Ford: “como aquele EcoSport chegou aqui?”, e complementei: “se a Ranger precisou da reduzida, o Eco só pode ter sido rebocado para cá”. Ele riu, desconversou e, depois de muito tempo, disse que o modelo tinha chegado lá na noite anterior.

Pedi inúmeras vezes para dar uma volta com aquele EcoSport no local onde estávamos, mas a Ford recusou. Em off, o mesmo engenheiro comentou que o carro não conseguiria passar pelos locais onde a Ranger passou, mesmo com o 4×4 ligado – nenhuma novidade.

Poucos antes de voltarmos para o hotel, eu me despedi do engenheiro e disse: “boa sorte! Espero que você saia daqui ainda hoje com o EcoSport, pois a previsão é de chuva para esta tarde”. Com cara de desânimo, ele se despediu. E realmente choveu…

Comentários

  • Parabéns ao Pedro e ao Parizzi pela avaliação.
    De fato existem muitas limitações na, podemos já dizer, antiga Ecosport.
    É aguardar para ver como se sairá a nova, que também foi construída sob a plataforma do (New) Fiesta .

  • Enrico disse:

    bom texto! eu nao gosto do ecosport desde quando foi lançado por causa do acabamento e do espaço no porta-malas. quero muito ver como será o novo.

  • Bruno, até medi o consumo, mas como fiz o deslocamento de Belo Horizonte ao interior com álcool, e o percurso na terra com gasolina (pois a gente precisava da maior autonomia o possível), não deixei no texto o valor.

    Rodando com gasolina, 4 ocupantes e ar ligado o tempo todo, O Eco fez 10 km / L num trecho com 70% de terra e 30% de asfalto.

    Gostei do consumo.

  • Mônik Benitez disse:

    Super bacana, vou iniciar trilhas leve, pouca experiência ainda, mas precisava dessa idéia pra ter noção sobre o carro na estrada. Passeio leve apenas pra descansar a cabeça, amo a minha eco❣️

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